quinta-feira, 31 de maio de 2012

Entrevista: Folha de São Paulo [1998]

 Transcrevo agora uma entrevista das muitas disponíveis no http://www.technopop-archive.com, um site brasileiro com conteúdo sobre o Kraftwerk que recentemente voltou ao ar depois de algum tempo (dizem que o próprio Ralf mandou fechar... mas enfim). Essa entrevista aconteceu em Outubro de 1998, quando o Kraftwerk vez sua primeira visita ao Brasil. Vamos a entrevista:
__________________________________________

  Folha de São Paulo - O Kraftwerk se considera mais do que um grupo pop?
Ralf Hutter - Sim. Somos operários musicais. Inventamos a semana de 168 horas, não há separação entre trabalho e tempo livre. Há tantas coisas a fazer: música, programar computadores, imagens, filmes, letras, palavras, discursos, entrevistas, viagens, esportes...
  Folha - O que mais o interessa?
Ralf Hutter - A vida cotidiana.
  Folha - Na Alemanha?
Ralf Hutter - Sim, só podemos falar do nosso dia-a-dia, ou seja, predominantemente o contexto industrial alemão em Düsseldorf, Colônia. Mas também estamos perto da fronteira, área pan-européia.
  Folha - Nesse momento a Alemanha passa por mudanças políticas.
Ralf Hutter - Sim, mas isso é só administração. Acho que não tem nada a ver com arte, música ou pensamento. Quem se importa com o governo? Não acho que burocratas possam influenciar a cultura.
  Folha - E quem pode?
Ralf Hutter - Bem, as pessoas fazem cultura, os cineastas, os escritores, os matemáticos, os cientistas, os artistas. Essas são as pessoas interessantes, não os burocratas.
  Folha - E o cotidiano?
Ralf Hutter - As invenções influenciam a vida cotidiana, como o gravador, a câmera digital, o sintetizador. Há cem anos, para criar um grande som, era preciso uma centena de pessoas, então era necessário um rei ou um rico empreendedor industrial. Hoje, com um computador e caixas de som, há todo um novo princípio de criação autônoma, que transforma os governos e a burocracia em redundantes. E com a Internet e outros canais de comunicação, há diferentes autonomias de discurso.
  Folha - O que acha do "faça-você-mesmo" com os computadores na música? E do resultado?
Ralf Hutter - É como havíamos previsto nos anos 70. Éramos a primeira geração do pós-guerra na Alemanha, quando não apenas as casas foram bombardeadas, mas havia uma desorientação na cultura alemã. Mas foi uma grande oportunidade, porque começamos do zero, não havia tradição contínua. Tínhamos essa idéia de criar a "Elektronikevolksmusik", como o Volkswagen, algo popular. Agora está em todo lugar, no mainstream. Aconteceu.
  Folha - Em 1977, você disse que "todo mundo busca o transe na vida, e as máquinas produzem um transe absolutamente perfeito". Continua achando?
Ralf Hutter - Sim. Nós tocamos as máquinas e algumas vezes elas nos tocam, é um diálogo. Kraftwerk é o homem-máquina. Algumas pessoas atingem o transe com a exaustão física, tomando drogas ou 20 xícaras de café. Nós o fazemos pela música.
  Folha - Há uma hierarquia na música eletrônica?
Ralf Hutter - Não. Algumas vezes, na música, o fator humano é superestimado. E com o Kraftwerk nós levamos o fator mecânico ao mesmo nível, à igualdade. Se você trata suas máquinas musicais da mesma forma que seus amigos ou a si mesmo, achará um feedback positivo.
  Folha - Primeiro foi o mecânico, o carro, o trem, depois o computador, agora há a Internet. A música antecipa estes estágios ou os retrata?
Ralf Hutter - Algumas vezes ela é simultânea, mas a música pode ser muito visionária.
  Folha - O que é visionário hoje?
Ralf Hutter - Nosso próximo disco.
__________________________________________

 Todos os créditos a Dante de Conti Neto e Marcelo Duarte, admins do http://www.technopop-archive.com.

Mais entrevistas (transcreverei algumas para aqui): http://www.technopop-archive.com/data_interviews.php 
______________________________________________________
Gostou? Comente!

4 comentários:

  1. Esse álbum é o chinese democracy do kraftwerk. Desde 97-98 o Ralf vem falando nele, a diferença é que o kraft demora mas quando um álbum sai é totalmente do c@#$%&*.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Chinese Democracy foi uma das primeiras coisas que lí sobre o Kraft, mal lembrava, nem sei se era veridico ou não o tema, e olha... desde aquela época se encontra mais atual que nunca, será o EUA de amanhã... o país mais rico e desenvolvido do mundo... mt inteligente da parte deles o tema... tomara que seja realmente algo assim...

      Excluir
    2. WTF??? Eu fiz uma analogia entre o álbum chinese democracy do guns 'n' roses e esse novo álbum do kraft. O guns demorou pacacete até lançar o chinese (dizem que foi 15 anos) e pra mim foi uma decepção quando ouvi. No caso do kraft, eles demoram pra lançar um álbum, mas quando sai, véi é totalmente d++.

      Excluir
    3. Já li tanta baboseira sobre um possivel album pro Kraft que houve um conflito, provavelmente alguem fez a mesma relação que você em algo que vi a um tempãaao.. hahaha' coisas da vida, conheço pouco de musica em geral, confesso (:

      Excluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...